Numa análise sobre o mercado do milho e as previsões da safra brasileira para 2023, o engenheiro agrônomo e consultor de Mercado Agrícola, Vlamir Brandalizze, aponta para o momento ideal de expansão da produção na região do Sealba. O assunto foi tema da edição deste sábado do podcast da Central para o Campo, disponível no canal do YouTube @CentraldeAdubosOficial. Mas o que significa o termo Sealba?
Dentre as regiões de produção agrícola do Nordeste do Brasil, uma área formada por um conjunto contínuo e interligado de municípios dos estados de Sergipe, Alagoas e Nordeste da Bahia foi identificada como sendo de alto potencial agrícola. Essa nova organização territorial foi denominada de Sealba, termo formado pela junção das siglas desses estados. De acordo com a Embrapa Tabuleiros Costeiros, essa região é formada por 171 municípios, sendo 69 municípios localizados em Sergipe, 74 em Alagoas e 28 no nordeste da Bahia. O principal critério para delimitar essa região agrícola teve como princípio a ocorrência de chuvas em volumes superiores a 450 mm, no período de abril a setembro, em pelo menos 50% da área total no município. Esse volume de precipitação pluvial é suficiente para o cultivo de diversas culturas de grãos, entre elas o milho.
Ao analisar os dados relacionados à cultura em 2022, fatores como a guerra da Ucrânia, que segue em curso, a seca que afetou o Rio Grande do Sul, com a perda de 2 milhões de toneladas, Argentina e os Estados Unidos (EUA), trazem boas perspectivas para o milho nordestino. “Desde o ano passado, a guerra da Ucrânia afetou a produção de milho de lá. Tem a seca dos EUA, que afetou as lavouras americanas, ou seja, temos uma condição bem favorável ao milho brasileiro. Dá para ver que, no mercado global, houve o impacto. A China, que tradicionalmente comprava o milho nos EUA e na Ucrânia, desde novembro liberou compras do milho brasileiro, em dezembro já foi o nosso maior importador, janeiro também. Ou seja, vai levar muito milho, dando condições do milho brasileiro se manter em cotações muito atrativas”, relatou.
A partir disso, já temos a primeira mudança para o produtor nordestino. “É que aquele excedente de milho que vinha, principalmente no Mato Grosso, que caminhava para o Nordeste e atrapalhava a vida do produtor nordestino, este ano e no próximo, provavelmente não terá. Automaticamente, a saída é produzir localmente, alcançando avanços de produtividade, tecnologia, porque a demanda do Nordeste é muito forte, continua crescendo e não vai parar”, determinou.
No cenário mundial, o ranking de exportadores trazia os EUA na primeira colocação, Ucrânia em segundo e o Brasil era o terceiro. Entretanto, subimos para a segunda posição com vistas para a primeira posição, diante das perdas das produções americanas e ucranianas. “Sem a Ucrânia no mercado e com a quebra da safra americana, já há indicadores apontando que o Brasil será o maior exportador mundial de milho. Esse é mais um fator positivo para o produtor de milho brasileiro.”
No comparativo entre os estados do Brasil, o celeiro do milho brasileiro é o Mato Grosso, com a expectativa de colheita de até 47 milhões de toneladas. O estado produz mais que praticamente toda a Argentina e mais que a Ucrânia. “Se o Mato Grosso hoje fosse um país, ficaria atrás dos EUA, que é o maior produtor mundial, em segundo a China que também é a maior importadora ao mesmo tempo, o terceiro o Brasil e em quarto seria o Mato Grosso. Mas esse estado já tem uma demanda local que só para etanol destina aproximadamente 15 milhões de toneladas de milho. Então, é muito milho que fica ali, que vai para ração. E como os canais de exportação do MT estão muito ligados ao milho, acaba não sobrando muito para o mercado brasileiro. Isso obriga os estados a ter uma produção própria para atender as demandas”, reforça Brandalizze.
Quando a análise foca exclusivamente na região Nordeste, é também possível perceber a mudança na destinação da safra. “Com a produção de etanol na Bahia, em Luís Eduardo Magalhães, automaticamente, o milho de lá que abastecia o Nordeste já será destinado à produção de etanol e, por isso, ficará mais escasso. Isso dá uma condição melhor para a produção de Sealba, que é uma região que está bem no centro do consumo e mais próximo aos consumidores do Nordeste todo, então isso é uma janela muito boa para o milho da região.”
Sendo assim, o cenário para essa região especificamente é bom porque há uma expectativa de crescimento da produção. “Hoje, tem uma série de tecnologias para garantir boas produtividades e boa qualidade do milho produzido aqui na região e isso vai atender ao mercado crescente. O Nordeste todo hoje tem demandas que chegam a até 15 milhões de toneladas. Mas a região só consegue colher até 9 milhões de toneladas e existe uma carência local que é atendida em parte pelo milho importado, que vem dos EUA e da Argentina. Como esse milho nos EUA e na Argentina está escasso e caro, acaba dando uma janela importante para a evolução”, explicou.
“Essa evolução representa o produtor pegando sementes melhores, mais produtivas, adubação mais adequada, tratamentos sanitários melhores, ou seja, saindo daquelas tecnologias de produtividade de até 5 toneladas por hectare, que é a média normal no Nordeste e em várias regiões do Brasil também é assim, e buscar a condição de colher até 10 toneladas por hectare, que existe a possibilidade. O solo da região tem boa condução e as tecnologias dão ao produtor a condição de produzir bem. É por isso que se abre essa possibilidade de crescimento e o Nordeste tem as melhores cotações de milho no Brasil”, relembrou Brandalizze.