Manejo hídrico na manga pode determinar sucesso na produção

A possibilidade de produção durante o ano todo é o que desperta o maior interesse na exploração da mangueira no Vale do São Francisco. E com planejamento correto da produção, é possível alcançar as janelas de mercado, alcançando melhor lucro com a comercialização da safra. Para isso, é preciso conhecer bem a sua cultura e regular o manejo de acordo com o calendário planejado.

O primeiro passo é buscar o processo de indução floral da mangueira, cessando o crescimento vegetativo. Por estarmos situados numa região semiárida, pode-se preparar a planta para florir através do manejo da irrigação. O método consiste na redução gradual da quantidade de água, visando a maturação mais rápida e uniforme dos ramos.

“Há o equívoco de algumas pessoas em achar que querer cuidar da manga é só depois da floração. Na verdade, a gente tenta mudar esse conceito das pessoas. A parte mais importante é a fase vegetativa. Porque é ela que vai construir essa reserva. Não é a floração. Ela é consequência do que você fez para trás. Então, o que a gente faz é dar uma condição maior nesta parte lá atrás, que é o processo, que chamamos de intermediário, que é maturação de ramos. Mas o que seria isso? É o momento em que a planta acumula mais reservas. Ela passa pelo momento de envelhecimento do material e, nisso, ela precisa diferenciar as gemas, de gema vegetativa para gema floral. Então, ali, você faz vários processos relacionados a uma condição de estresse. É preciso estressar a planta. Nesse estresse, se você errar, é desastroso, porque você vai consumir a reserva que ela produziu”, explica o consultor na área de manga, Valmar Souza.

Para iniciar o processo, é necessário reduzir a lâmina de irrigação. “Porque você precisa inverter o balanço hormonal da planta. Tudo isso é pensando no ajuste hormonal dela. Então, você usa técnicas externas, além da aplicação de produtos, para que isso aconteça. Então, a gente diminui a lâmina de irrigação e isso vai favorecendo um ajuste no balanço hormonal.”

Segundo o especialista, essa diminuição precisa ocorrer de forma gradual. “O ideal é que haja irrigação todos os dias, mas isso depende da textura do solo. Tem um solo que retém muita água, mais argiloso. Nesse caso, é possível dar um espaço maior em dias. É possível irrigar todos os dias, mas posso irrigar dia sim e dia não, um dia sim e dois não, isso é muito relativo de área para área. Isso não pode ser engessado e nem pode ser receita. Nos solos de textura mais leve, tem que irrigar todos os dias porque ele não retém. Vai diminuindo o volume de água aos poucos. Em períodos chuvosos, logicamente, você vai passar uma condição de dias a mais sem irrigar”, orienta.

No início da floração, também é necessário estar com a lâmina (quantidade de água) um pouco baixa, explica Valmar. “A ideia é mexer no balanço hormonal da planta, é fazer com que ela pare de ficar com produção de hormônios de crescimento para entrar nos hormônios de reprodução. Então, isso é uma estratégia que a gente tem que fazer. Só que não pode ser de uma vez. E, nessa estratégia, a planta sofre um pouco. Sofre pelo déficit de água, então ela diminui a transpiração. E assim, ela também diminui o processo de acúmulo de reserva.”

E neste momento dois fatores são importantes: o processo de nutrição da planta precisa estar em dia e, em caso de oxidação, é necessário usar uma ferramenta de redução de estresse, sem alterar o manejo hídrico em curso. “Dependendo da situação em que você coloque a planta, de estresse, isso pode ocasionar um problema muito grave, que é uma reação do oxigênio que deveria ser liberado para atmosfera e fica retido na folha. Dessa forma, esse oxigênio aumenta a temperatura interna e é como se houvesse um processo de fervura dentro da folha. Ou seja, é a questão da formação dos radicais livres ou radicais óxidos. Tudo que é óxido vem de um processo de queima. Então, esse oxigênio que fica ali aumenta a temperatura, começa a queimar alguns compostos, forma algumas enzimas para isso e vai degradar a estrutura da folha. É comum nesta fase ver algumas folhas amarelando, ficando amarronzadas, caindo, isso tudo é decorrente dos estresses.”

Mesmo percebendo esses efeitos, o produtor deve-se manter firme no planejamento inicial. “Algumas pessoas optam por aumentar a lâmina de irrigação e invertem o balanço hormonal de novo. Às vezes, você perde o estresse e não consegue controlar essas enzimas que fazem esse processo de degradação de queima muito rápido. Mas, se você aplica um peptídeo desse (redutor de estresse), que tem uma ação oxidante muito alta, ele reverte esse efeito muito rápido, porque vai atacar exatamente aquelas enzimas que estão aumentando a temperatura e estão degradando a estrutura da folha e inibe isso. Assim, a planta se recompõe e começa a trabalhar de novo, de forma mais rápida”.

Valmar reforça um alerta importante. “Muitos se enganam que, na indução floral, deve-se aumentar a lâmina de irrigação, mas não é o caso. Na indução, a irrigação é menor do que na maturação. Então, toda vez que você for fazer algo em que se percebe que a planta vai gastar reserva, ou que vai passar por um processo de oxidação, que é a queima, que é a perda do material, o redutor de estresse entra de fato, como um coringa”, reforçou.

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