Presentes em duas épocas estratégicas para comercialização de frutas no Vale do São Francisco, as chuvas resultaram em problemas no campo e dúvidas entre os importadores das uvas e mangas produzidas na região. De acordo com o pesquisador e coordenador do observatório da Manga e Uva da Embrapa Semiárido, João Ricardo Lima, tanto no primeiro quando no segundo semestre, as questões climáticas deram um banho de água fria nas expectativas dos produtores.
“O ano de 2021 foi, em termos de volume exportado e receitas de exportação, marcado por um recorde no período mais recente. Assim, o ano de 2022 iniciou com grandes perspectivas para o mercado externo, dado que tanto o volume quanto a receita estavam aumentando a cada safra. Porém, o ano começou com um impacto climático muito forte, que foi o grande volume de chuvas na região do Vale do São Francisco. Apesar de ter mais efeito nas uvas, com perda de produção efetiva, as mangas também são muito afetadas, em termos de qualidade. E isto afeta o mercado interno e muito o mercado externo”, relatou Lima.
De acordo com o pesquisador, entre janeiro até abril deste ano, os volumes de manga exportados seguiam o comportamento dos dois anos anteriores. Porém, a partir de maio, os dados mostraram uma forte queda nos envios internacionais. “Os importadores estavam com muito receio da qualidade da manga brasileira, com possibilidade de apresentar doenças”, explicou.
Já no caso das uvas do VSF, desde fevereiro os volumes embarcados são menores, tanto em função da qualidade, quanto da própria disponibilidade da uva, que teve uma oferta muito baixa em razão do que se perdeu no campo com as chuvas.
Na janela de exportação deste segundo semestre, João Ricardo prevê que, apesar da retomada mais forte dos volumes exportados, isso não será suficiente para que se tenha um novo recorde de exportações.
Para piorar esse cenário, a logística de envio dessas frutas permanece prejudicado. “Uma outra questão importante que impactou o mercado desde o ano passado, e vai ficando mais complexo em 2022, é a própria logística, com restrição tanto da disponibilidade de contêineres e de navios, quanto nos próprios custos de transporte para a Europa e os Estados Unidos, que aumentaram em uma proporção muito alta. Além dos aumentos que ocorrem também no próprio custo de transporte da região até os principais portos de exportação”, pontuou.
Por fim, ainda há a guerra contra a Ucrânia influenciando esse cenário. “Teve início uma guerra com embargo econômico de diversos países à Rússia, gerando excedentes de produção de frutas de tradicionais compradores do Brasil”, acrescentou.
Exportações 2022 em números
Segundo João Ricardo, até o final de outubro deste ano, quase 160 mil toneladas de mangas foram exportadas. Isso representa uma queda de 20% em comparação com o mesmo período do ano passado. “Em receita, foram arrecadados US$ 141,8 milhões, retração de 23% na mesma comparação com o ano anterior”, explicou.
“No caso das uvas, foram exportadas cerca de 27 mil toneladas, aproximadamente, queda de 40% em comparação com o mesmo período do ano passado. Em receita, foram arrecadados US$ 55,9 milhões, retração de 43% na mesma comparação com o ano anterior”, apontou o pesquisador.