O mercado de insumos agrícolas está cada vez mais aprimorado no controle de pragas e doenças. Visando entender melhor o funcionamento dessas ferramentas, o podcast Da Central para o Campo debate o uso de produtos biológicos: sustentabilidade e eficiência. O novo episódio foi ao ar no último sábado e pode ser conferido no canal do You Tube, @centraldeadubosoficial.
Nele, é possível acompanhar a entrevista feita com os representantes da Balagro, João Manoel (assistente técnico) e Daniel Dutra (analista de Desenvolvimento de Mercado) sobre o comparativo entre os produtos usados a partir de compostos químicos e biológicos.
Inicialmente, João Manoel explicou que os produtos químicos são compostos por uma molécula que interfere no ataque de pragas. Esses insumos carregam questões relacionadas ao limite máximo de resíduo (LMR) e ao que se refere aos resíduos deixados na planta, na fruta e no meio ambiente.
No caso dos produtos biológicos, além de alcançar o efetivo controle de pragas e doentes, sua composição abriga um agente microbiológico que vem para solucionar o problema que atinge a planta e, após a sua aplicação, não há preocupação em relação às moléculas presentes nesses produtos nem com riscos à saúde ou ao meio ambiente.
Entretanto, Daniel Dutra fez questão de ressaltar que deve haver cuidados na aplicação das ferramentas biológicas. “É um produto voltado para a agricultura, então é sempre importante ter a consulta prévia a um engenheiro agrônomo ou a um técnico responsável para que o produto seja usado da melhor forma. As restrições são muito menores em relação aos produtos químicos, mas é necessário ter cuidados básicos com relação à manipulação do produto, porque nele não está apenas o agente biológico, ali está a formulação de um produto. Então, além dos agentes biológicos, estarão os inertes, numa formulação que entregará o melhor resultado”, frisou.
Ao manter o comparativo entre as duas linhas em questão, Dutra relembrou que os produtos químicos possuem uma ação mais rápida no controle de pragas. “A molécula é sintetizada com diversos mecanismos de ação para o combate a uma praga ou uma doença, mas, falando especificamente de insetos, temos um grupo bem significativo que atua no sistema nervoso central deles.”
Porém, ao optar por uma ferramenta biológica, o produtor vai assegurar uma ação mais natural, onde o composto age como se causasse uma doença na praga. “O fungo Beauveria bassiana, por exemplo, atua como uma doença naquela praga. Ele vai colonizar aquele inseto, crescendo e se multiplicando nos tecidos internos dele, vai se alimentar, produzir uma série de toxinas e compostos que são tóxicos para aquela praga, até causar a sua morte. Então, é um processo que ocorre naturalmente”, explicou.
Isso é possível graças às linhas de pesquisa e desenvolvimento. “Esses agentes levados para os compostos biológicos foram encontrados inicialmente na natureza. A pesquisa surgiu desta forma. A gente vai isolando, vai identificando os possíveis microrganismos que têm potencial de controle para determinado problema na agricultura. É um produto que não tem restrição de período mínimo de utilização para colher a manga ou a uva no campo”, ponderou.
Além das questões ambientais relacionadas ao uso excessivo de produtos químicos, fatores econômicos também foram apontados durante a entrevista. Segundo João Manoel, a depender das moléculas utilizadas, há mercados cada vez mais exigentes, principalmente o mercado da uva na União Europeia. Eles estão cada vez mais restritos, algumas moléculas já foram até banidas do mercado e outras têm o LMR muito baixo. Isso quer dizer que alguns inseticidas e fungicidas não têm o uso permitido em até 40 dias após a poda. No caso de alguns inseticidas, ainda há a possibilidade de uso até o período de floração, entre 30 dias, a depender da variedade, e até 35 dias após a poda.
E a inviabilidade de escoamento desta safra não se limita apenas ao mercado externo. Apesar de o Brasil ter parâmetros mais tolerantes ao LMR, já há exigências pela redução de resíduo nas frutas e legumes comercializados no mercado interno. “A substância não consegue ser degradada e o nível máximo pode vir a causar um problema à saúde. A Anvisa é bem clara, ela tem esses limites para cada molécula que é permitida e destaca bem que respeita até certo grau de resíduo, porque isso não pode afetar a saúde humana. Acima desse grau máximo, que varia a cada molécula utilizada, a fruta com resíduo pode causar danos à saúde humana”, alertou João Manuel.