A melhor forma de evitar tantos prejuízos com as precipitações é a prevenção. É possível garantir que a chuva não irá cair em maior volume? Não, mas é possível controlar a umidade do solo através da drenagem adequada para reagir apropriadamente. Aqui, na região do Vale do São Francisco, os produtores tiveram mais uma etapa a ser vencida diante das precipitações ocorridas entre os meses de outubro e novembro. De acordo com o engenheiro agrônomo e consultor técnico na cultura da Manga, Eduardo Ferraz, os volumes foram atípicos e surpreendentes para o período.
“É uma situação totalmente atípica na nossa região, chuvas bastante intensas iniciando já no final de outubro e permanecendo no mês de novembro. Eu tenho notícias de áreas de fazendas que receberam precipitações acima de 100 milímetros em uma única chuva e, uma semana depois, receberam mais de 100 mm. Então, há locais que já sofrem mais de 350 mm em algumas semanas. É um volume de precipitações bem expressivo e fora do padrão normal de ocorrência das chuvas na nossa região.”
As consequências podem ser mensuradas em dois cenários diferentes. Entre os produtores que preparam a safra para o primeiro semestre de 2023, há prejuízos na indução floral. “Isso repercute de uma forma complicada nos cultivos de uma forma real. Eu posso falar sobre isso na cultura da manga porque trabalho diretamente com ela, e isso afeta a indução floral nas áreas com previsão de safra para o primeiro semestre, por exemplo. As áreas que estavam em processo de indução floral para produção em março, abril, tiveram um certo tipo de comprometimento em tempo de resposta floral se a planta não estiver bem preparada e isso pode afetar o volume de frutas para esse período.”
Já entre os produtores em fase de colheita, há possíveis riscos no pós-colheita e até de redução nos níveis de sacarose dessas frutas. “Outra coisa que influencia e que pode trazer consequências foram as chuvas em áreas que estavam em plena colheita. Isso afeta a qualidade da fruta porque pode aumentar a incidência de doenças na pós-colheita e, também, pode afetar o brix de frutas porque o excesso de água no solo termina fazendo com que a fruta absorva mais água, afetando, baixando o brix da fruta. Você tem, portanto, uma possível perda de qualidade dependendo de algumas coisas que você tenha na fazenda e que possa fazer.”
Por isso, estar em dia com a drenagem da área reduz os riscos ao desenvolvimento da planta porque permite melhorar a aeração, estruturação e resistência do local, além da manutenção de uma temperatura mais adequada. “Uma das coisas importantes, em um dos momentos de chuvas dessa natureza, é a fazenda ou a área ter uma drenagem eficiente, bem direcionada e que isso propicie um escorrimento ou uma drenagem rápida do excesso de água daquele solo. Isso ajuda bastante a planta a se restabelecer porque, caso essa água permaneça saturando o solo, as plantas também param de crescer e isso tem uma influência ruim na parte aérea. Então, há uma tendência de que, se esse encharcamento permanecer, vai gerar a ocorrência de distúrbios fisiológicos caso permaneça por um certo tempo. Portanto, há uma série de consequências que são ruins para o cultivo em função da situação em que o pomar se encontrar”, destacou Eduardo Ferraz.